@BrasiLyonnais / @FilipeDidi
Tradução:
Malu Iubel e Alexandre Massi
Dotado de um discurso misto de imponência, timidez e obviedade, Milan Bisevac conversou com o nosso blog. O zagueiro sérvio, contratado nesta temporada, por quase 3M de euros, falou um pouco sobre o que conhece do Brasil e o que espera da temporada, mas desviou de perguntas acerca de questões políticas e o ambiente dentro do elenco do Lyon.
Titular absoluto do time na atual temporada, o defensor abriu o jogo ao falar que o Lyon planeja, sim, colocar um chopp na festa do PSG e que para 2013/2014 o time visa voltar a disputar a UEFA Champions League. O blog BrasiLyonnais orgulhosamente publica a sua primeira entrevista exclusiva com algum jogador do clube. Desde já agradecemos a disponibilidade, tanto do Milan Bisevac, quanto da Malu Iubel e do Alex Massi, que ajudaram muito na tradução do material.
Abaixo você poderá conferir, na íntegra, a entrevista com o jogador.
BRASILYONNAIS: Antes de mais nada, mesmo jogando do outro lado do oceano, como você enxerga o futebol aqui no Brasil? Conhece algum clube em especial? O que te chama a atenção por aqui?
MILAN BISEVAC: Eu não conheço muito o futebol brasileiro mas de vez em quando eu aproveito para assistir alguns jogos. Conheço muito os clubes do Brasil, mas é um estádio que me chama atenção: obviamente é o Maracanã – como o estádio do Estrela Vermelha de Belgrado (meu time do coração onde joguei várias temporadas) que tem o mesmo nome*. No Brasil, um jogador sérvio deixou sua marca: Dejan Petkovic. E eu fico muito orgulhoso.
*Nota: o estádio Estrela Vermelha ganhou o apelido de Marakana em referência ao estádio brasileiro depois de colocar um público de mais de 96 mil pagantes (acredita-se que tenha sido mais de 110 mil espectadores) no jogo contra o time húngaro Ferencváros pela semifinal da Recopa Européia de 1975.
BL: Ainda se mantendo na questão do Brasil. Você, atualmente, é titular de uma posição que já foi muito bem composta por brasileiros como Edmilson, Claudio Caçapa e, mais recentemente Cris. Você encara isso como uma grande responsabilidade? Qual o aprendizado que isso lhe proporciona?
MB: Isso não é nenhum problema para mim. Respeito todos os jogadores que jogaram no Lyon antes de mim nessa posição. Eu ainda quero elevar meu nível de jogo ao melhor possível.
BL: Desde algum tempo, o Lyon, muito em função da personalidade do presidente Jean-Michel Aulas, adota uma política de não contratar jogadores muito experientes. Para essa temporada nomes como o seu e de Malbranque, por exemplo, apareceram e vem dando certo. Na sua opinião, o que mudou na cabeça do presidente para que ele liberasse, dessa vez, a contratação de jogadores mais experientes?
MB: Ele não faz qualquer distinção entre jogadores jovens e mais experientes. Estamos todos aqui pelo coletivo. O Lyon tem muitos jogadores jovens formados na base e jogadores como Réveillère, Malbranque e eu estamos lá para “supervisionar” e ajudá-los a progredir em seus interesses pessoais e do clube. Eu penso que somos um elo entre juventude e experiência.
BL: Antes de chegar ao Lyon, você teve passagens pelo Lens, Valenciennes e PSG na França. São equipes bem diferentes em termos de torcida, política interna e situação financeira. Em qual desses times foi mais fácil se ambientar em relação ao seu perfil profissional?
MB: Eu me senti muito bem nos times em que joguei na França. Não posso escolher um time em particular... Depois do meu primeiro clube, o Estrela Vermelha de Belgrado, minha primeira temporada na França foi no Lens e foi marcado por resultados muito bons e um 4º lugar na classificação. Os jogadores tinham ótimas condições para evoluir, pois tínhamos um formidável Centro de Treinamento.
Depois disso fui para o Valenciennes, clube onde adquiri a maturidade e experiência, melhorando muito o meu jogo. Passei três belas temporadas lá e me torneio o capitão. Então vem o episódio do PSG. Eu acho que não vale a pena se estender por muito tempo no assunto. É um grande clube e uma grande cidade. Recebi várias propostas, mas o meu desejo era jogar no PSG. Fiquei por lá apenas uma temporada mas, sinceramente, terminei satisfeito com esta temporada única. Em janeiro fui eleito “jogador do mês” – o que é raro para um zagueiro. Tenho certeza que esta temporada pelo PSG me deu uma certa exposição. Eu já havia feito uma série de jogos muito melhores no Lens e Valenciennes mas por lá existe menos exposição.
Tive muitas lesões na última temporada, o que me impediu de provar o que sou capaz de fazer. Mas sabia que o Lyon me queria para compor o time. Tudo foi completamente inesperado para mim mas, hoje, estou no Lyon e estou muito feliz aqui.
BL: Na última temporada, pelo PSG, você pode acompanhar o princípio da grande mudança que está ocorrendo no time. Você, que fez parte do elenco e pode ver de perto, o que faltou pro Paris-Saint Germain conquistar a última Ligue1? E porquê o time ainda não engrenou nessa temporada?
MB: O PSG tem investido muito dinheiro para trazer jogadores com o objetivo de ganhar títulos. Nesse momento é muito difícil para eles; quem sabe eles precisam um pouco mais de tempo?! A Ligue1 é um campeonato imprevisível! Um campeonato onde todo mundo pode vencer todo mundo (como o Rennes que ganhou do PSG no Parque dos Príncipes com apenas 9 jogadores em campo e perdeu o jogo seguinte contra o Evian em casa). Eu acho que o PSG ainda é o favorito para o título, mas todas as equipes farão o seu melhor a cada semana para deixar a tarefa deles o mais difícil possível.
Para mim, o PSG perdeu o título na última temporada na partida contra o Auxerre. Um time que visa o título não pode se dar ao luxo de perder pontos contra times que disputam o rebaixamento. Eu espero que esse campeonato permaneça indefinido até o final. E nós esperamos que o Lyon dê o máximo para tentar surpreender.
BL: No Lyon, seu companheiro de zaga é o croata Dejan Lovren. Como vocês dois lidam com essa situação no contexto nacionalista? Vocês se falam muito? Conversam sobre o assunto?
MB: Dejan e eu não falamos sobre política e a guerra na ex-Iugoslávia. Temos objetivos em comum no clube e temos uma boa relação.
BL: Em relação às outras temporadas, o Lyon, depois de muito tempo, não está disputando a Liga dos Campeões. Talvez, em função disso, a pressão dos torcedores esteja menor nessa temporada. Até que ponto isso pode ser benéfico para o time?
MB: Todo mundo está acostumado a ver o Lyon na Liga dos Campeões, mas não é o caso este ano. Vamos fazer de tudo para na próxima temporada o Lyon retornar a elite e as competições europeias mais prestigiadas. Este ano estamos jogando a Liga Europa, que é uma competição difícil e que necessita muita energia pois não há equipes pequenas ou adversários fáceis. Nossos fãs sempre estão lá para torcer por nós, não importa a competição. Hoje, eles nos incentivam na Liga Europa mas no próximo ano espero que seja na Liga dos Campeões.
BL: No grupo do Lyon, mesmo que você tenha chegado recentemente, quem é o cara responsável por colocar alegria no dia a dia do pessoal? O palhaço da turma, aquele que faz todo mundo rir nos treinamentos? E quem é o mais bravo, que sempre cobra dos jogadores a todo instante?
MB: Eu repito: somos uma equipe composta por uma mistura de juventude e experiência. Ninguém realmente surge como um líder – todo mundo está a serviço da equipe e do coletivo.
BL: Voltando a falar em Brasil, em 2014, a Copa do Mundo será aqui. Você acha que a Sérvia tem condições de ultrapassar a Bélgica e a Croácia no grupo e se classificar pra competição? Se sim, quais são as pretensões da Seleção Sérvia para o mundial aqui no Brasil? Até onde podem chegar, na sua visão.
MB: A Sérvia tem rejuvenescido sua equipe e, por enquanto, nem tudo funciona como deveria. Infelizmente, com a falta de sucesso, nós perdemos nossa partida em casa contra a Bélgica. O resultado não mostra, mas a Bélgica foi capaz de explorar nossos erros defensivos e nossas tentativas não foram concretizadas pelos nossos atacantes. Depois disso, ain perdemos para a Macedônia. A situação é muito complicada e nossas chances de classificação são pequenas mas enquanto resta esperança não se deve desistir. Isso eu aprendi jogando futebol.
BL: Por fim, deixe um recado aos poucos, porém fieis, torcedores do Lyon aqui no Brasil. O que podemos esperar do Lyon nessa e nas próximas temporadas?
MB: Lyon é um grande clube. A prova são os inúmeros jogadores que já passaram pela equipe antes de irem para outros clubes mais prestigiados (Benzema, Essien, Malouda, Sony Anderson... e muitos outros). Temos ambições e desejamos voltar a Liga dos Campeões na próxima temporada. Por enquanto tudo está bem e estamos liderando a Ligue1*. Talvez sejamos uma surpresa como o Montpellier na última temporada mas, de qualquer maneira, nós vamos lutar até o fim para conseguir. Eu gostaria de cumprimentar todos os fãs do Lyon no Brasil, estou muito orgulhoso que podemos nos alegrar com os bons resultados e na esperança que eles continuem assim!!! Muito obrigado!
* Quando a entrevista foi realizada, o Lyon era o 1º colocado na tabela da Ligue1
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