
Ederson Honorato Campos, 23 anos, é mais um destes jogadores brasileiros que vêm ganhando destaque no futebol europeu e só agora se tornam mais conhecidos no próprio país.
Campeão mundial sub-17 com a Seleção Brasileira em 2003, Ederson trocou o Juventude pelo Nice no início de 2005. Depois de três anos e meio na Ligue 1, transferiu-se para o Lyon, abraçando o desafio de ajudar o time a conquistar o oitavo título consecutivo.
Em entrevista exclusiva à Trivela, Ederson fala sobre seu momento na França, a expectativa pelo confronto com o Barcelona na Liga dos Campeões e as cobranças pela manutenção da hegemonia do Lyon no cenário doméstico.
Ederson, você marcou um gol importante para o Lyon neste fim de semana, na vitória por 2 a 0 sobre o Grenoble. Que avaliação você faz do seu momento e do momento do time?
Felizmente, comecei bem o ano de 2009. Era fundamental, porque não terminamos bem 2008, tivemos resultados abaixo dos esperados. Na rodada anterior, empatamos com o Lorient, recebemos muitas críticas. Além disso, os outros clubes conseguiram encostar na classificação. Tínhamos de vencer o Grenoble para acalmar as críticas e manter a liderança, e foi o que fizemos.
O Bordeaux pode ser considerado o principal adversário?
Sim. Eles têm muita regularidade, conseguem acompanhar nosso ritmo. É um time que se reforçou bem para a temporada e é a principal ameaça ao nosso oitavo título consecutivo.
E eles contam com o Gourcuff, que tem feito uma ótima temporada.
É verdade, ele é um grande jogador e vem muito bem. Mas também temos grandes jogadores. De qualquer forma, é bom deixar claro que não estamos descartando os outros clubes, como Rennes e Olympique de Marselha, que estão na briga.
Você tem atuado aberto pelo lado esquerdo. É uma determinação do técnico ou seu próprio estilo?
Eu comecei como segundo atacante, mas ainda nas categorias de base, com 16 anos, os técnicos passaram a me utilizar como meio-campo ofensivo. Ainda hoje é a função em que me sinto melhor. Aqui na França, me testaram em várias posições. No Lyon, costumo mesmo jogar mais aberto. É uma função que te exige cobrir mais a parte defensiva, o que torna difícil aparecer sempre para finalizar.
Como é o trabalho do técnico Claude Puel?
Ele é muito motivador, insiste na agressividade, na vontade do time. É claro que ele também procura organizar o time para que a gente precise correr o menos possível, cobrir todos os espaços, equilibrar defesa e ataque. Mas ele exige sobretudo empenho dos jogadores.
E a situação do Fred, que está em fim de contrato? Ele está mesmo de saída? Como é o ambiente dele no grupo?
O Fred é muito profissional. Mesmo com o contrato no fim, ele procura treinar bem, fazer o máximo pelo grupo. Mas é claro que ele quer uma decisão o mais rápido possível, para programar seu futuro. Se ele sair mesmo, sentiremos falta. É um grande jogador e traz grande alegria ao ambiente.
Como vocês estão se preparando para o confronto com o Barcelona? Vocês se vêem como azarões?
Serão dois grandes jogos. Hoje o Barcelona é consideradoo melhor time do mundo. Vamos nos preparar com humildade, discretamente, sem falar muito. O mais importante neste momento é manter a liderança do campeonato, para chegarmos com mais tranquilidade ao confronto. Teremos de estar 200 por cento em condições para surpreender.
Como você avaliaria a diferença de estrutura e de realidade entre o Nice e o Lyon?
Não é tanta como se pode imaginar. O Nice dava boas condições de trabalho. O que mais me impressionou na chegada ao Lyon foi a recepção que tive no clube e dentro do elenco. Eles fizeram com que eu me sentisse bem desde a chegada.
Mesmo depois de sua saída e a do goleiro Hugo Lloris, o Nice segue fazendo boa campanha. Você acha que o clube cresceu durante sua passagem por lá?
Deu para notar um crescimento gradual. Muito se deve à manutenção da comissão técnica (N.R.: Frédéric Antonetti está no cargo desde 2005). A confiança no trabalho permitiu ao clube colher os frutos. Sempre falo com o Hugo sobre o Nice, é bom vê-los fazendo um bom campeonato. Esperamos que eles sigam crescendo, porque eles podem chegar entre os grandes em breve. A cidade tem um excelente clima e a torcida é apaixonada.
Você deixou o Brasil aos 18 anos. Como foi se adaptar à vida no exterior tão jovem?
No início nunca é fácil. Fui muito bem recebido, mas há dificuldades com o idioma, a comida, a cultura diferente. Procurei estudar francês com um professor particular, porque uma vez que você domina a língua, sua adaptação fica bem mais fácil.
Você foi titular na conquista do Mundial sub-17 em 2003. Acredita que por ter saído tão cedo acabou comprometendo suas chances de seleção?
Todo jogador sonha com a Europa, desde garoto. Quando tive a oportunidade, não pensei duas vezes. Tive a oportunidade de amadurecer como jogador e como pessoa. Foi a melhor escolha possível. Ainda assim, sei que fiquei mais distante da Seleção com isso. Fui campeão mundial e não tive mais oportunidade. Passando do Nice para o Lyon, um time que disputa Liga dos Campeões e briga por títulos, as chances aumentam. Por isso procuro ter boas atuações e me destacar para um dia poder ser chamado.
Este parece ser o campeonato mais difícil para o Lyon nos últimos anos. Como é a cobrança da diretoria e da torcida para que vocês mantenham a hegemonia?
Os dirigentes e a torcida querem sempre um ano melhor que o outro, e também é assim com os jogadores. A cobrança é grande. Não é nada fácil ser sete vezes campeão de forma consecutiva, e por isso mesmo temos de reconhecer o trabalho de jogadores como Juninho, Cris, que fizeram parte dessa história. Nossa posição de domínio aumenta a vontade dos adversários, e para nós será cada vez mais difícil, porque somos o time a ser batido.
Como é a convivência com o Juninho, um ídolo do Lyon? Você se vê como sucessor dele de alguma forma?
Juninho é muito especial. Ele é tratado bem por todo mundo, pelo que representa. Parece que tudo o que fazem por ele ainda é pouco pelo que ele significa para o povo de Lyon. é uma ótima pessoa, me ajudou muito desde que cheguei. Quanto ao futuro, espero ter um grande percurso no Lyon, mas nunca sabemos o dia de amanhã. Se eu puder seguir os passos do Juninho, será uma honra.
FONTE: Trivela (por Leonardo Bertozzi)